A racionalidade do poder_*aula anarco libertária

Pela importância de que se reveste passo a citar As Grandes Correntes do Pensamento Contemporâneo
pág, 235_ A Nova Filosofia _"tendo reconhecido a essência universal do poder, que comanda e organiza todos os outros conceitos fundamentais, tais como os de
desejo,
de real
ou
de história,
há que interrogarmos sobre como é possível que o poder dure. Qual é o laço que o liga ao saber e à sua expressão tanto política como psicológica: a Lei. O Estado moderno com efeito exprime o totalitarismo, que segrega pelas formas mais monstruosas de bárbarie: a exploração, os campos, a polícia política, a tortura, a prisão, etc.. o fascismo e o estalinismo. Mas destila o seu carácter totalitário por redes e em locais que é ignorado na sua essência totalitária.
   
     É que um poder, para ser tão duradouramente e universalmente, totalitário, precisa, para ser obedecido pelo povo e pelas massas do consentimento e da liberdade destas. É preciso que seja não somente credível, mas justificado, compreendido, amado. É precisa a adesão dos corações (isto já no-lo ensinaram desde há muito tempo os estudos sociológicos e psicológicos sobre o fascismo), mas mais, e sobretudo, o consentimento da Inteligência. Precisa de provar a sua racionalidade, a sua necessidade objectiva, como a sua compreensão subjectiva.

O "eroticos logos" ou o amor dos textos

Sabe-se, pelo menos, desde Maquiavel, que o Príncipe não governa somente pela força e pela repressão física. Sabe-se igualmente desde Lenine e Mao, que a revolução não se faz apenas com o golpe de força. A revolução francesa é a tomada da Bastilha e a guilhotina, mas é sobretudo a adesão à Filosofia das Luzes, de Rousseau, Diderot e Voltaire. O príncipe, como o herói revolucionário, precisa do texto ( teoria, ideologia, lei, cultura, etc..) para se fazer amar e obedecer.
     O "Pequeno Livro Vermelho" e "Democracia Francesa" são tão necessários ao Estado, como os carros do CRS ou o KGB, porque o poder precisa dos mestres-pensadores para justificar a razão de estado.

Ideologia/Símbolo
     Ora, que dizem a teoria, a ideologia senão que "em suma convém obedecer ao livro antes de lê-lo e ninguém se espantará, ao lê-lo, por descobrir, como verdade primeira e última, que é preciso obedecer-lhe"
     O livro, é aqui um símbolo. Exprime que o povo não adere ao Estado a não ser na medida em  que o poder vá buscar à força dos textos a sua legitimidade. É preciso, pois, amar o texto, a doutrina, a teoria que o justifica p/ que consinta em obedecer, sobretudo qyuando ignora a relação essencial que existe entre uma verdade e um poder, entre uma teoria e a política, entre o marxismo e o Estado ou o capitalismo e o Estado. Longe de ser um factor de libertação, o poder do texto, pelo contrário, impõe-se a todo o sujeito: é preciso obedecer ao que a lei ordena, mas esta só ordena p/ ser obedecida.

_a burocracia ou a razionalidade do Estado

     Nas nossas sociedades centralizadas e racionalizadas, o Estado transmite a sua racionalidade por meio de um conjunto de estruturas e de homens: a burocracia. (ler, O processo, Franz Kafka) Esta é um dos atributos do poder totalitário dos Estados modernos, de Leste como de Oeste. Esta burocracia n/ é um fenómeno pura/ estaliniano na URSS, ou uma malformação do capitalismo no Oeste. É a essência, ao mesmo tempo que a forma, por onde surge a racionalidade do poder. Ora qual é a finalidade de toda e burocracia? Não é apenas sobreviver a si mesma como classe, , é proceder de maneira que a lei, que é pura .... exterioridade, se interiorize progressivamente, que o Estado que está fora dos indivíduos, que dele são o limite segundo Rousseau, seja reconhecido por eles como um ser, como alguém de interior e que lhes é intimo
     _a burocracia é o que transmite a lei da obediência, é o Estado no que tem de incompreensível, mas também de segurizante. "O Estado ama-nos sem desfalecimento, é só o que faz amar-nos.... O serviço público, estipula essa fantasmagoria: a oblatividade do Estado". O fenómeno burocrático é a afirmação de que o Estado sabe o que é bom para o povo, é a expressão desse saber: Não é somente a escola a ensinar, mas também as repartições e os formulários, o tecnocrata e o texto de lei. O que a burocracia ensina de essencial é que o Estado tem um poder de domínio. É aquele que sabe e que faz a lei e esta, na sua finalidade visa convencer os sujeitos do seu poder e da necessidade de obedecer-lhe. Daí a frase de Sartre "Os quarenta volumes de Lenine representam uma opressão para as massas"
fim de citação


por,
Sonja Schneider Na "A Rebelião do Homem Massa"

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