"Noções que distorcem... A Apreensão do espírito do Real. "O Conceito de Deus",

"A Sensação da realidade era directa nos Gregos e nos Romanos, em toda a antiguidade clássica. Era imediata. Entre a sensação e o objecto - fosse esse uma coisa exterior ou um sentimento, não se interpunha uma reflexão, um elemento qualquer estranho ao próprio acto de sentir. A atenção era por isso, perfeita, cingia cada objecto, por sua vez delineava-lhe os contornos, recortava-o para a memória. Quando era dirigida para o interior (...) incidia atentamente sobre cada detalhe da vida espiritual, concretizando-o pela própria acuidade equilibrada da atenção. Passada pelas almas a longa doença, chamada cristianismo, esmiúçado doentio espírito por si próprio, a clareza da sensação perturbou-se. A presença no Pensamento das ideias de espírito de Deus, de outra vida, concebidas como o eram levaram a uma decomposição da realidade, qual os gregos a haviam concebido. Entre a sensação e o objecto dela intercalara-se todo um mundo de noções espirituais para desvirtuar a visão directa e lúcida das coisas. A própria sua imortalidade não era inumana porque era uma eternidade percorrida humanamente, por uma eterna duração fora. A Sensação é nitidamente do exterior, mas ao mesmo tempo esse sentimento (sensação) do exterior, do físico, é sempre acompanhada por uma obscura consciência interior, do psíquico. ARTE_ o objectivo da arte é a autoconsciência Humana", in Fernando Pessoa*  Para Orpheu "Sentir é Criar"


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