contos vermelhos

Modo actual:esperto
"foi quando se viu desamparado e só no fundo da cela, só e varado de medo, que aquela ideia se definiu como tábuas em mão de naufrago. "AGUENTO enquanto puder. Se me torturarem digo o que sei "ja antes, quando o carro policial rodava velozmente para o abismo da prisão, ele perguntara a si próprioo como recuperar o sol, a noiva, os seus livros... a liberdade, enfim, que ia ficando pra trás, cada vez mais distante . Lá no carro, porém, estavam os outros, os camaradas de célula, ainda unidos pela mesma solidariedade e pelo mesmo destino .AO procurar ver lhes espelhada a inquietação que a ele tanto o angustiava, encontrou os calmos, quase risonhos. teve de sorrir também.
Agora, não. dispersos pelo temporal, cada um procurava seu rumo, procurava salvamento. Qual fora os destinos dos outros? não sabia. que amarra os ligava ainda, como elementos de uma unidade que era  a célula partidária ? Nenhuma. Sim, ele agora era um naufrago. E estava só . E apenas, via uma tábua de salvaçao ao seu alcance " digo o que sei, e pronto."

Mais sereno, suspendeu as três passadas com que percorria a cela, de lés a lés ; sentou se na tarimba.os seus argumentos pareceram lhe irrefutaveis. mas no intimo uma parte de si proprio permanecia renitente, inconvicta, o que  o levou de novo ao vai vém, como fera enjaulada. "Claro que nao abriria a boca, antes de o torturarem. Adoptaria a táctica de negar tudo e de nao saber nada. Era lícito, visto que os agentes nao possuiam prova alguma das suas actividades. Mas, se o torturassem, ... a resistência fisica tem limites" justificou se antes que uma palavra lhe escaldasse o cérebro: TRAIÇÃO.
levou as mãos ao rosto, como que a esconde lo da ignominia" não nao seria uma traiçao, se fraquejasse . o compromisso que  tomara perante os companheiros não deixara margem para dúvidas. Lembrava se bem . "
(...) lembrava se bem. Quando lhe perguntaram qual seria o seu porte na prisão, sob as torturas fascistas, respondera de pronto:
- aguentar até ao limite da resistência fisica (...)
Dois dias depois, quando o chefe da polícia e dois agentes, munidos de chicotes, entraram na sala, Paulo amparava se às paredes para se suster de pé. As pernasm inchadas eram como dois trambolhos, as pisaduras negras em volta dos olhos, mostravam a febre que o atormentava.
- Olá tens passado bem ? - casquinou o chefe. - decerto já queres fazer declarações.
- sim, quero.
_ora ainda bem - continuou aquele, esfregando as maos. - à Gestapo portuguesa ninguém resiste .
- Sim, quero fazer declaraçoes definitvas - repetiu e tomou folego. Da cara tinham se esbatido os vincos de sofrimentos, - só os olhos dominavam . - Sou comunista. AMo o meu partido e a minha pátria, que só poderá ser grande se o seu povo for livre. Eu luto e lutarei por essa liberdade "...
A um sinal do chefe, os dois agentes não o deixaram continuar. Deitado ao chão por uma chicotada, com a cara cortada de lado a lado, ficou a escabujar sob os golpes ininterruptos dos agentes, a resguardar a cabeça no casaco , como se este pudesse couraça lo. Já o sangue escorria das roupas para o chão e os agentes pareciam enojados, ainda o chefe gozava a cena com sádica expressão. Por fim, quando paulo quase que nao reagia as chicotadas, aquele levantou lhe a cabeça e gritou:
- Fala , sacana!
- Não trairei ... nem que ...- começou paulo a dizer.
Mas o policia atirou lhe um soco a boca, que lhe fez saltar os dentes da frente, de mistura com sangue e gemidos de dor.
O jovem caiu para trás. Dos seus lábios já nao podiam soltar se mais palavras, Mas, os olhos muito abertos, e os punhos cerrados, diziam por ele:
 - Nem que me matem !
in contos vermelhos e outros escritos
20 de janeiro de 1949

" o pio dos mochos"

Modo actual:virgem
"Há um ano que ansiava por aquele momento (fazia um ano e dois dias que fora suspenso, por mau porte na prisão) - e, agora, que alexandre lhe entrara pelo quarto dentro, sentia se incapaz de repetir uma palavra sequer da conversa que tantas vezes planeara. Alexandre não aludiiu ao passado, nem mostrava ressentimento. E isso aumentava a sua ansiedade !
houve um silêncio breve. depois, aquele que fora o seu melhor amigo expos lhe o caso em poucas palavras " que os camponeses da sua terra natal não se deixaram contratar na praça de jornas, onde se troca a força do trabalho por salários de fome:paralisaram as ceifas. E que a aldeia, por represália,  ficara isolada no meio de um cordão sanitário de polícias, como se de epidemia se tratasse" e alexandre concluiu:
- em toda a região há olhos postos nos camponeses em greve. É preciso ajuda los antes que esmoreçam. Queres ir ?
- Vou

Naquele momento diria a tudo que sim. A presença inesperada do amigo fazia o retroceder no tempo em que merecia a confiança dos camaradas, e lutava.Também ele, por castigo, fora isolado como um leproso.
- Amanhã é dia de finados - explicou o amigo.
-deixas este saco no cemitério dentro de um jazigo..
- no cemitério?!
A exclamaçao saiu lhe dos lábios sem que pudesse reprimi la. Corou. Alexandre incidia sobre ele os olhos coruscantes, que pareciam devassar lhe todos os pensamentos ...
- tens medo?, perguntou secamente
_não. Irei , nem que seja ao cabo do mundo. Quero "limpar me" de vez .
O amigo esboçou um sorriso imperceptivel; tirou do bolso um revolver .
- Toma. Pode ser te necessário - disse ele, os panfletos devem ficar pouco visiveis sobre a campas. Adeus saude e bom êxito !
No patamar, voltou se ainda . - A lua rompe à meia noite- Percebes ???
(...)
in contos vermelhos
soeiro pereira gomes
- dedicado ao camarada Duarte *
* pseudónimo na clandestinidade por alvaro cunhal
"quando entrou no quarto, o seu refugio, atirou se para cima da cama, satisfeito. Ainda desta vez, escapara! Apesar de haver perdido a noite anterior, não tinha sono; apenas lhe doiam os pés, com certeza cheios de bolhas rebentadas sob as meias coladas a carne, como de costume.
Há três meses naquela tarefa - ir buscar o material de propaganda, distribuí lo -, ainda nao calejara os pés, como os outros camaradas, que aguentavam muitos quilómetros. É verdade. Há três meses que mergulhara na vida clandestina! noventa dias de luta, fugido aos esbirros fascistas, partilhando dum lar estranho, embora amigo, ali no quarto estreito que era todo o seu mundo de repouso, de estudo e de sonho, às vezes. Gostava bem daquele quarto de tecto baixo e paredes manchadas pela humidade, com a cama de ferro a um lado, sem colcha; uma mesa tosca, no outro, além da mala: e uma janela que dava pras traseiras dos prédios, mas da qual se via, ao fundo, uma nesga do rio "
refugio perdido
in contos vermelhos e outros escritos,
a resistência contra os fascistas mantém se !!! medo medo medo opressão repressão ! ... o meu imaginario anda preso no maio de 68 e na ditadura salazarista que dominou portugal apesar de ter havido sempre contestários da politica repressiva mercenária "orgulhosamente sós" de antóni o de oliveira salazar ... nem áfrica queria largar ... apesar da força internacional para abandonar antigas colónias ou "provincias " como eles diziam ... mergulhava no luso tropicalismo, corrente de gilberto freyre que defende que os colonizadores portugueses nao eram racistas até porque criaram o mestiço, de qualquer forma os primeiros a avançar para áfrica eram presos sem mulheres portuguesas uma vez em entrevista a um programa de rádio, o padre mario de oliveira, que foi excom,ungado pela igreja católica por pregar contra a colonização disse me que nos barcos , "ensinavam como violar pretas " ???!!! a fazer revisionismos historicos ... hijos da puta MORTE AO FASCISMO ****
dedicado a todos os que lutam pela liberdade !

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