“Amadeo: O Último Segredo da Arte Moderna”
“A História da Arte tem de ser reescrita”! É a mensagem que
fica do filme em ante estreia, no passado dia 16 de Abril, em Amarante:
“Amadeo: o último segredo da arte moderna”. Fizeram-se as honras oficiais, com
José Luis Gaspar, o presidente da Câmara Municipal de Amarante e com a presença
do realizador, Christophe Fonseca, numa sala do Museu que apesar, “de ser o
espaço de Amadeo, e por isso nos pareceu o mais apropriado”, como referiu o
autarca, as dezenas de cadeiras em plástico num local que se revelou pequeno
demais, contrastavam com a elegância parisiense artística do tema. “Simbólica”
esta passagem por Amarante. “A partir daqui vamos para Paris, onde decorre uma
Exposição internacional de Amadeo, no Grand Palais e depois, para o resto do
mundo. É um pintor injustamente desconhecido no estrangeiro. Não faz sentido!
Já que se trata de um grande ícone”, introduz Christophe Fonseca. Ao longo do
filme, em que especialistas vários intervêm, todos de comum acordo: “é uma peça
que falta no puzzle que é a Arte Moderna contemporânea, sendo um dos artistas
mais promissores, caído no esquecimento pela sua morte prematura”, aos 30anos.
Analisam-se correspondências, exibem-se fotografias que nos mostram o lado
divertido de Amadeo, mostram-se obras numa viagem entre Manhufe (casa natal),
em Amarante e Paris, onde acontece o “essencial da ruptura estética do
modernismo”. O artista amarantino (1887-1918) escreve aos familiares, “aqui
respira-se. Em Portugal, abafa-se”! Estava, assim, no centro onde tudo se
agita. Rapidamente se instala em Montparnasse, o local por excelência dos
artistas vanguardistas e onde acontecem as festas que marcavam a história da
vanguarda parisiense. Amadeo convive com a alta sociedade, compreende os
códigos parisienses como ninguém e depressa se posiciona no centro de um grupo
de amigos artistas e intelectuais, como Modigliani ou Brancusi e, mais tarde,
Sónia e Robert Delaunay. Corria o ano de 1906. A sua aprendizagem passa por
todos os estilos, revelando uma forte necessidade de construir “a sua
identidade”, como é referido no filme. As suas telas mostram temas inspiradores
do seu “vale encantado” ou Manhufe, que tem um lugar indissociável na obra do
pintor, “como uma declaração de Amor à sua terra”. Podem ver-se montanhas, numa
sucessão de planos que estimula a sua criatividade. Apesar de sempre ter dito
que não se enquadrava em nenhum movimento e nenhuma escola, Amadeo de Souza
Cardoso, com o tempo vai-se aproximando do “abstracto”, escolhendo a
“vanguarda” numa rotura visível, “levando sempre mais longe a modernidade”.
Sete anos depois da sua chegada a Paris, atravessando em ritmo acelerado as
grandes teorias do seu tempo, Amadeo dizia “nós os novos só procuramos agora a
novidade”...
“Um trabalho que foi interrompido. Uma vida cortada”
O interesse que tem sido manifestado em alguns circuitos
artísticos por este pintor emblemático de Amarante, tem levado a um estudo
minucioso dos seus objectos e obras. Recentemente foi encontrada uma caixa com
materiais extraordinários e que pode ser uma nova pista para localizar as suas
obras desaparecidas. Enaltecido pelos melhores críticos parisienses, e
reconhecido pelos seus pares da altura, há obras de Amadeo em França, Portugal,
Alemanha e Estados Unidos. São raros os museus do mundo que têm quadros de Amadeo.
O Departamento de Conservação e Restauro da Universidade Nova de Lisboa, tem
submetido a estudo telas que são radiografadas, submetidas a raios
ultravioletas, infravermelhos e espectrógrafo, no sentido de autenticar as
obras que lhe são atribuídas. Desta forma, consegue-se observar a sobreposição
das cores nas telas e as radiografias mostram que não existe nenhum desenho
prévio antes da pintura, o que abriu uma grande janela sobre a sua técnica.
Amadeo tinha tudo imaginado: “onde por as cores, as formas, as linhas”…
Conclui-se uma mestria de movimento e profusão de cores, fazendo “um estudo
científico da cor e como valorizar os tons”. O pintor mergulha na modernidade e
usa os materiais mais revolucionários, da emergência da indústria química. São
cores artificiais, como o “azul cobalto” entre outras, que Amadeo associa aos
pigmentos tradicionais.
Recentemente, foi encontrado em
Amarante, um novo trabalho deste “modernista”. Trata-se de uma colagem, na qual
ressalta o lado “pop” que só iria estalar na década de 50, e que segundo
especialistas, “esta nova obra não cabe nos critérios da História da Arte”,
rematando, “ele antecipou e escapou ao seu tempo”. Agora, a finalidade última
de todas estas instituições culturais, inclusive a Fundação Calouste Gulbenkian,
que continua a lutar pela detecção das obras de Amadeo, é colocar o pintor
amarantino, “no lugar que ocupou na História”! “Amadeo, o Último Segredo da
Arte Moderna” esteve em estreia mundial, na passada quarta- feira, 20 de Abril,
na RTP1. Um facto que o Christophe Fonseca referiu como “Inédito, um
documentário cultural em horário nobre. O público precisa de Cultura”,
defendeu. Amadeo ou “o segredo mais bem guardado do mundo da arte moderna” como
alguém lhe chamou. Em redescoberta ….
por "Carla Vera"
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