"já nos USA, a CIA (Central Intelligence Agency) também n/ necessitou de se escudar num manto do mais opaco secretismo, pois a actividade da CIA sempre foi conhecida do público norte americano. Ao contrário da NSA (National Security Agency) cuja existência foi negada durante bastante tempo pelos sucessivos governos norte americanos (ao ponto de a sigla NSA ser sarcasticamente considerada nos EUA como significando No Such Agency, ou seja "essa agência não existe"), os diferentes presidentes sempre usaram a CIA para oferecer à população norte americana, um sentimento de segurança. No mundo instável e imprevisível da guerra fria, aos norte americanos não interessava saber ao pormenor o que a CIA fazia, crendo que, o que quer que fizesse seria para o bem dos EUA.
     Mas, como é óbvio num país profunda e historicamente anti estatal como os EUA; houve sempre franjas da população que, pelo contrário, nunca confiaram na sua agência de espionagem. Raras agências terâo sido alvo de tamanha quantidade de acusações, fundadas ou infundadas, como a CIA, desde a suposta participação no assassinato do presidente John F. Kennedy a ligações à mafia italo-americana de Sam Giancana, passando por acusações mais ou menos "pitorescas" como a participação no encobrimento da presença extraterrestre no planeta Terra, o chamado e bastante propalado, até hoje "caso Roswell".
     Porém, também esta realidade sempre serviu à CIA: sendo considerada responsável por tudo e mais alguma coisa, é fácil rejeitar as acusações ocasionais e fundadas que surjam, incluindo.-as simplesmente no imenso rol de absurdas teorias da conspiração onde se vê constantemente envolvida. Por outro lado, a crença popular de que o poder da CIA era quase infinito, depondo presidentes, ditadores ou juntas militares onde lhe apetecesse, interferindo nos destinos de qualquer país caso o julgasse conveniente, era bastante conveniente à CIA como forma de amedrontar e manter a URSS sob a mira.
     Nascido em 1909, a sua área de actuação era, sem mais nem menos, o maior império que o mundo alguma vez vira, estendendo-se - fosse na forma de países soberanos que deviam lealdade à coroa britânica, protectorados ou colónias tout court - da América do norte, América Central e América do Sul `a Ásia, passando por África, Médio Oriente e Oceânia. Tendo o M16 de defender os interesses estratégicos da Grã-Bretanha num tão vasto e eclético território que incluía as sensibilidades não apenas de diferentes países, como de diferentes religiões e mesmo civilizações, é natural que o M16 fosse muito mais cauteloso e discreto do que o seu arqui inimigo KGB e que a sua "prima" CIA.

..... Se o M16 estava habituado a espiões do KGB que se tentavam infiltrar em centrais nucleares ou laboratórios militares britânicos para roubar segredos, a China não apenas entra nessas centrais nucleares e laboratórios militares através de vírus plantados nos seus sistemas de internet, como faz o mesmo às empresas ocidentais, porque a nova guerra fria - do Ocidente com a China é também . ou mesmo principalmente - económica.

..... Mas, esta guerra fria, ao contrário da anterior, pode mesmo ganhar contornos espaciais.
Se a luta pelo espaço entre os EUA e a URSS, bem como projectos ambiciosos e espectaculares como o Star Wars de Ronald Reagan, pouco mais foram na prática do que inconsequentes, desta feita a Guerra Fria pode mesmo sair do planeta Terra, após cientistas dos governos britânico e norte americano terem calculado que a superfície da Lua esconde mais de 100 milhões de toneladas de um gás não-radioactivo, conhecido como Hélio3, quase inexistente no nosso planeta. Sendo que umas meras 100 toneladas de Hélio-3 são suficientes para colmatar as necessidades energéticas anuais de todo o mundo, as principais potências logo se começaram a movimentar para terem prioridade sobre a sua extracção.

A NASA e a Agência Espacial Europeia planearam construir uma base de prospecção na Lua até 2014, esperando rapidamente começar a extrair o precioso gás e transportá-lo até à inglaterra e aos EUA em enormes naves-cargueiro. O M16 foi chamado a pensar em todas as possibilidades de ataques terroristas ou sabotagem internacional que pudessem existir a essas viagens. Agentes do M16 em Moscovo e Pequim não precisaram de imaginar ameaças, pois descobriram uma real e assustadora: a Rússia e a China tinham assinado um acordo secreto que previa a exploração conjunta de Hélio-3, na Lua, o transporte para a terra e a futura distribuição, a todo o mundo aos preços que Moscovo e Pequim entendessem.

     Quanto às ameaças que pediram ao M16 para imaginar; um relatório da Agência enviado ao governo britânico dava conta de que a forma mais provável com que a china atacaria o transporte inglês e norte americano de Hélio-3 seria sabotando electronicamente os sistemas computadorizados que controlam as aterragens. Mais, o M16 prevenia o governo que não apenas a China atacava constantemente os países ocidentais através da internet, como estava a construir supercomputadores capazes de o fazer em dimensões nunca antes imaginadas, podendo num futuro não muito longínquo, paralisar, através de vírus informáticos, toda e qualquer actividade militar, empresarial e social do Ocidente. Pior, os países ocidentais estavam muito atrasados em relação à China e à Rússia nessa nova corrida ao armamento, desta vez um armamento quase virtual, mas capaz de levar a consequências bastante reais".
in M16
José-Manuel Diogo
"Público"

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