1. Saddam Hussein era monstuoso. Contudo, a maior parte dos seus actos mais monstruosos verificaram-se na década de 80, época em que era aliado dos Estados Unidos - um baluarte contra o fundamentalismo iraniano - disponde de armas biológicas, químicas e outras, fornecidas pelos EUA, ou ainda  no período que se seguiu à Guerra do Golfo. Segundo grande número de testemunhas com origem no interior do regime (é particularmente expressivo o do seu intérprete pessoal!) Saddam nos últimos anos entrou num estado de espírito do tipo "outono do patriarca" refugiado nos seus palácios a escrever os seus romances baratos, e alheado dos problemas concretos do governo. O regime estava à beira do colapso - mas graças ao embargo comercial pôde manter-se no poder por meio do controlo estrito que exercia sobre os géneros alimentares, os medicamentos e outros bens essenciais. A "mudança de regime" no Iraque verificar se ia de qualquer modo, e muito provavelmente num futuro próximo, independentemente da invasão norte americana.

     A invasão do Iraque não foi, ao contrário do que afirmam os falcões liberais, um acto de intervenção humanitária. Embora o seu regime fosse despótico - como muitos outros que existem no mundo actual - os actos mas infames de Saddam tiveram lugar há já alguns anos. As comparações com os casos do Kosovo e do Ruanda são falsas: a invasão não interrompeu qualquer carnificina, conduziu a ela.

     O argumento dos falcões liberais segundo o qual deveríamos festejar a queda de um regime fascista baseia-se numa leitura selectiva da história. Embora seja verdade que o Partido Baas, como muitos outros movimentos nacionalistas, foi fundado na década de 1940 na esteira do fascismo europeu, os falcões liberais em causa não advogam do mesmo modo - digamos a título de exemplo - a queda do governo indiano (...) podemos dizer que hoje morrem na Índia com a cumplicidade do governo mais pessoas inocentes do que aquelas que morreram nos últimos anos, no Iraque, antes da guerra.

     A equipa de Bush acreditava sinceramente que, depois da derrubado Saddam, seria fácil a instalação de um governo fantoche encabeçado por Chalabi, que seria saudado como um libertador, o que permitiria a certos interesses americanos grandes negócios ligados à reconstrução do país e à extracção do petróleo. Uma "parte do bolo" como expressamente foi dito. Ao que parece não havia quaisquer planos se, exceptuarmos os planos de negócios, a propósito da ocupação.

O Afeganistão e o terrorismo

As acções terroristas são levadas a cabo por grupos muito restritos de indivíduos que se vêem muitas vezes transformados, na imaginação popular, (como aconteceu nos anos sessenta ou no mundo muçulmano de hoje) em heróis fora da lei. A acção militar, com as inevitáveis mortes de civis que causa, não só não trava o terrorismo, como o ajuda a recrutar mais indivíduos, atraídos pela ideia de protegerem ou vingarem contra o agressor as vitimas inocentes que este faz. A Europa prende os terroristas, os EUA atacam a zona onde pensam que eles vivem.

     A guerra levada a cabo no Afeganistão matou milhares de inocentes e nada fez que travasse a Al-Qaeda nem os seus companheiros de jornada, como as bombas que entretanto explodiram noutros países comprovaram. Os campos onde eram treinados camponeses para combaterem como soldados em Cachemire e no Uzbequistão podem ter sido de facto destruídos (se não se tiverem transferido para o Paquistão), mas nada prova que as células integradas por elementos terroristas, gozando de um grau de instrução superior e com origem na classe média, tenham sido pelo menos enfraquecidas, havendo muita gente que avente até a possibilidade de se terem visto reforçadas.

in,

"O que aconteceu na América,
As célebres crónicas sobre Bush" Eliot Weinberger
Maio 2006

REPUBLICANOS: Um Poema em prosa
12 de Agosto de 2004

Alfonso Jackson, secretário do estado da habitação e do desenvolvimento Urbano é republicano. Explicou os enormes cortes no sector da habitação social, declarando: "Ser pobre é um estado de espírito, e não uma condição"

Rick Santorum senador da Pensilvânia, é republicano. Defende cortes no campo da protecção e garantias do bem estar das crianças, sugerindo que "obrigar as pessoas a esforçarem-se um bocadinho não é necessariamente a pior das coisas"

Eric Bost, Subsecretário dos Géneros Alimentares e da Alimentação, do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, é republicano. Um estudo realizado pelos seus próprios serviços afirmou que 34 milhões de americanos, entre os quais se contam 13,6 milhões de crianças com menos de doze anos, são atingidos pela fome, mas Bost duvida destes números: "Se perguntarem a um adolescente se está satisfeito com o que come em casa, o que é que ele vai dizer"? Comentando, um relatório segundo o qual o número de pessoas que procuram assistência juntos dos centros de distribuição de alimentos do Ohio aumentara em 44 por cento nos últimos três anos. Bost declarou a um jornal do Ohio "Os centros de distribuição de alimentos não exigem a apresentação de declarações de rendimentos... por isso, o facto de uma pessoa frequentar as cozinhas da assitência não prova que seja realmente necessitada"

"os republicanos estão a combater o terrorismo. Rod Paige, secretário da Educação, chamou à National Education Association, cujos membros somam 2, 7 milhões de professores, uma "organização terrorista" Karen Hughes, assessor do Presidente, disse que especialmente desde o 11 de setembro, os americanos apoiam os esforços de Bush no sentido de banir a prática do aborto, porque "a questão fundamental entre nós e a rede terrorista que estamos a combater é a do valor de cada vida humana"

D. Nick Rerras, senador do Estado da Virginia, é republicano. Acredita que a doença mental é causada por demónios e, um tanto contraditoriamente, que "deus pode castigar as familias dando lhe filhos doentes mentais. Declara também que "os trovões e relâmpagos querem dizer que Deus está furioso connosco"

to be continued


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